sábado, 5 de maio de 2007

2.1


Tobite e o valor da esmola

se a tua mão secreta me devolve ainda ao trigo,
ao vinho, ao óleo, às romãs caídas, ao calor
do figo, seja eu de novo a voz entre os pinhais
e um dia a mais ainda

eu que para dormir me deitara ao longo do muro
e tivera sono como comera amor, e amara
duro como sonhara a dor, num canto escuro e fundo
do mesmo mundo longo

tenho agora aos olhos a luz da tua mão aberta
que me inspira, me cura e me consola, e saio à rua
de alma certa, a desenterrar os mortos por esmola
por mais um dia agora

mas seja eu de novo a treva ríspida da escama
se eu renegar à tribo de meu pai, ou tua mão
me chama sem crer na minha voz: ah, seja eu só
e nem mais um dia
num mundo curto
A.

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