domingo, 13 de maio de 2007

7.


Quando se trata de definir estes trabalhos nunca sei muito bem o que dizer. Sei que gosto que tenham um certo cunho kitsch e é por isso que misturo elementos díspares e despropositados. A pagela envolvida pelas flores de plástico numa caixa forrada a espelhos cumpre essa vontade. Estes pequenos altares que me saem das mãos resultam em coisas esquisitas e não consensuais. Numa abordagem mais tradicional estes registos são, porventura, considerados, pouco ortodoxos, mas gosto deles assim e gosto que não tenham um ar convencional, gosto que sejam distintos e únicos e que não se confundam com os feitos por outras pessoas. Historicamente julgo que a vertente religiosa é sobrevalorizada e que a pagela, enquanto elemento devocional, se assume como elemento fundamental e gerador e tudo o resto possui uma função meramente decorativa. Nos meus isso não acontece. Quando escolho uma pagela escolho-a de forma (quase diria) aleatória e por motivos que podem passar para lá do santo que ela representa. Ela é, aqui, mais um elemento decorativo. É meramente uma imagem e as suas cores ou a forma como é feita a sua representação, a simbologia que lhe está associada ou que lhe associo quando faço o trabalho ou o efeito/prazer visual/estético que retiro dela naquele momento em particular são-me muito importantes. Há uma imagem constante no processo de criação de cada um destes pequenos altares privados: vejo-os sempre relacionados com um imaginário muito ao gosto de Pedro Almodovar...
Mas, sobretudo, eles dão-me muito prazer.

2 comentários:

Vera disse...

Que pena não acreditares, é por isso que é kitsch ... como se eu espalhasse budas pela casa fora ou anõezinhos num jardim africano...ou os telhados pretos das casas dos emigrantes ...
uma coisa é revelar o kitsch como faz o Almodovar, outra coisa é fazer ...
enfim gostos não se discutem, não é ? mas resolvi abrir esta janela dos comentários... podes sempre apagar ...

altar disse...

Não acreditar? Mas não acreditar em quê? De forma alguma as minhas crenças foram aqui convocadas. Ai de mim se, nisto que faço, por um momento que fosse, confundisse a arte e a fé. E referi o Almodovar, como disse, por ele existir no meu imaginário, não por uma veleidade comparativa.
E sim... gostos discutem-se. Ou será isto o silêncio?